quinta-feira, 21 de maio de 2015

Lei da Palmada

__________________________________________ Auricélia Alves | Psicopedagoga

PENSANDO SOBRE A LEI 13010/14 OU “LEI MENINO BERNARDO” OU AINDA “LEI DA PALMADA”

Educar é algo extremamente complexo. E, em se falando de educação no âmbito familiar essa complexidade se agiganta, pois envolve não somente fazer seu filho ver o mundo dentro de uma conotação social, como também envolve crenças e valores que constituem a individualidade de cada família educadora.

Nessa busca é que os limites são ultrapassados e os desafios da educação são testados. Pais e mães têm uma grande oportunidade de testar suas capacidades de compreensão do que está dentro dos limites ou o que ultrapassa esses limites. 

Acredito que, ditar e criar regras de educação às famílias para os seus filhos, não é papel do Estado, sob pena de estar interferindo justamente nas crenças e valores individuais familiares. E, pior, causando uma grande confusão em pais ou mães que não saberão o que fazer nas diversas situações em que acharem necessário uma punição. Deixar de castigo sem poder usar o celular é humilhante para os dias de hoje? Não poder encontrar com os amigos é uma maldade? Dar uma palmada é cruel? É traumatizante? Que atitudes podem ser tomadas diante da necessidade de uma punição? Sim, porque educar é fazer entender que existem regras a serem cumpridas e limites a serem respeitados. A sociedade impõe sanções e punições para os cidadãos que, digamos, “não andam na linha” ou não seguem as regras de convivência. Os filhos precisam aprender a viver em sociedade e a educação familiar tem as ferramentas necessárias para tal aprendizado. 

No entanto, entendo que, diante de situações que requeiram intervenção por excessos, o Estado deve sim orientar e coibir os excessos. E excessos têm a ver com violência, no sentido mais amplo da palavra. Uma palmadinha vez ou outra não é excesso e até me faz lembrar o poema de Cecília Meireles, educadora e poetisa, “Uma palmada bem dada” escrita no seu livro “Ou Isto ou Aquilo”, e que descreve uma menina que não quer nem escovar os dentes e reclama de tudo.  Dar palmadas continuamente como alternativa ao ensinamento é excesso.  

A incapacidade de algumas famílias de vislumbrarem uma alternativa à violência, seja ela física ou psicológica, na hora de impor limites, é preocupante. Essa incapacidade pode passar a ser a única alternativa e vai se agigantando até que não tem mais volta. E violência gera mais problemas do que soluções. Educar adotando um comportamento agressivo e intimidador é cruel e degradante. Não ensina, só tem o objetivo de punir. 

Uma discussão sobre educação, aqui, em especial a familiar, jamais terá um ponto final. A lei em foco não discorre sobre a palmada. No entanto, procura oferecer orientações e coibir os excessos, na tentativa de mudar o comportamento de famílias que fazem uso da violência como alternativa para educar seus filhos. 

____________________
 Para uma melhor compreensão do que sejam necessidades e desejos, aconselho a leitura do livro Limites Sem Trauma da escritora Tania Zagury, que oferece uma linguagem clara e esclarecedora sobre o tema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário